Recentemente, em um atendimento de mentoria e coaching, surgiu o tema sobre como o excesso de produtividade – e as ferramentas tecnológicas utilizadas para alcançá-la – está sufocando a criatividade. Como surgiu esse tema?
A partir da teoria do Coaching Ontológico, vamos fazer juntos uma análise deste assunto por três grandes universos: linguístico, emocional e corporal. Com isso, podemos compreender o que está por trás desse fenômeno, que, estou certa, não é um problema individual, mas sim coletivo da nossa sociedade.

Universo Linguístico
Meu coachee e mentorado chegou dizendo que se sentia exausto, constantemente sendo pressionado a produzir mais para se perceber competente, estar à altura ou ser melhor que seus pares, tornando-se uma oferta interessante na empresa onde trabalha. Esse pacote o levou a se desconectar de quem é e do que acredita. Como um hamster de laboratório, corria sem parar na esteira da entrega incessante de atividades, ideias inovadoras e desempenhos impecáveis de liderança – resultando em um esgotamento e frustração sem fim.
Universo Emocional
Ansiedade! Sim, querido leitor, meu coachee e mentorado chegou indicado por seu psiquiatra para trabalhar os gatilhos que o faziam ter picos constantes de ansiedade e pânico. Conhece alguém assim? É algo tão comum nos dias de hoje, não é mesmo?
Voltando ao tema: os picos constantes de adrenalina e estresse no corpo, aliados à voz presente em sua mente dizendo: “Você não é capaz. Vai dar errado. Vão descobrir que você é uma fraude”, resultaram em emoções constantes de medo, raiva e frustração, além de um residual de tristeza.
Universo Corporal
"Joana, mas como o corpo está relacionado com tudo isso?" Vem comigo, vamos refletir juntos.
Se eu penso o tempo inteiro que sou uma fraude, sinto medo, tristeza, frustração e outros sentimentos que circulam nas mesmas ruas do mesmo tema, o que você acredita que acontece com meu corpo?
Primeira e principal resposta: paralisação. Parar, pois o medo já tomou conta e minou os alicerces de autoconfiança e a alegria em executar as tarefas do dia a dia. Até o gostinho saudável do desafio e da superação se transformou em um peso imensurável.
Quando uma pessoa sente medo e paralisa, tudo paralisa: a respiração, o corpo, a mente. Há uma liberação enorme de hormônios como adrenalina e cortisol. Preciso falar mais alguma coisa? Já imagina, né? Ingredientes potentes para um termo que aprendi recentemente e adorei: o ciclo da ruína.
Agora, a grande questão é: como sair desse ciclo?
Reflita comigo: em quais momentos da sua vida você se sentiu mais criativo? Mais conectado consigo mesmo e onde tudo parecia fluir de forma leve?
Será que produzir e ser eficiente precisa estar diretamente relacionado à pressão externa e interna, ao confinamento da boiada, que muitas vezes resulta em um estresse que traz exatamente o contrário do que tanto desejamos?
Estava lendo um artigo no Every Thesis sobre o fim da produtividade e como a criatividade é uma das soluções que enriquecem nossa caminhada. Alguns pontos interessantes:
Mudança de Foco: Com o avanço da inteligência artificial, devemos mudar nosso foco da produtividade para a criatividade. A produtividade tradicional, baseada em “fazer mais, mais rápido”, está se tornando menos relevante.
Limitações das Ferramentas de Produtividade: Ferramentas digitais são ótimas para gerenciar tarefas, mas não ajudam a decidir o que deve ser feito. Elas favorecem a padronização e a eficiência, mas a criatividade é um processo não linear, que muitas vezes envolve explorar várias ideias antes de encontrar a certa.
Informação Criativa vs. Administrativa: A informação criativa (que alimenta projetos e ideias) precisa de ferramentas que incentivem conexões e suportem o pensamento não linear, diferente da informação administrativa (listas de tarefas, notas de reuniões), que requer recuperação eficiente e previsível.
Ferramentas para Criatividade: Ferramentas são projetadas para melhorar a criatividade em três etapas: coletar ideias interessantes, conectar e organizar materiais, e criar algo novo. Elas permitem capturar ideias sem decidir imediatamente onde elas pertencem e organizá-las de forma que facilitem conexões inesperadas.
Integração de IA: A inteligência artificial pode sugerir conexões que não consideramos e amplificar nossa capacidade de ver padrões e possibilidades, transformando a internet de uma máquina de distração em um instrumento de precisão para a criatividade.
Novo Paradigma: Um modelo que celebra e nutre a natureza caótica e imprevisível da criatividade, em vez de focar apenas na eficiência e produtividade.
Então, querido leitor, por que precisamos nos limitar e nos moldar às ferramentas digitais, tornando-nos escravos delas, ao invés de usá-las a nosso favor?
Antes de tudo, precisamos começar pelos movimentos analógicos, e só depois usar a tecnologia como uma ferramenta para facilitar nossa vida – e não o contrário.
Por último, te sugiro: pare tudo, respire, se perceba.
Como você se enxerga no meio de todos esses desafios? O quanto você se sente escravo da boiada e o quanto você toma as rédeas do que deseja em suas mãos? Eu sei que é desafiador, especialmente no momento que estamos vivendo. Muitas vezes, uma ajuda – seja ela qual for – é importante para nos tirar da rotina e da compulsão do dia a dia. Não é mesmo?
O que posso deixar aqui para você? O desejo de que esta reflexão desperte um novo lugar em você ou te aproxime dele. E, para finalizar, um abraço apertado. Afinal, nessas horas, um abraço alivia os momentos difíceis.
Seguimos juntos, cada um em seus desafios...
Até breve,
Joana Madia.
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